sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Carta #1

Queridos leitores,

Eu estava escrevendo um post para esse blog quando a campanhinha tocou. Fui atender e o porteiro me disse que havia uma encomenda para mim. Pedi que subisse com ela e, qual não foi minha surpresa, ao ver uma enorme caixa com meu nome no destinatário e o de uma tal de Pandora como remetente. Tentei lembrar se conhecia alguém com esse nome e nada me vinha à memória. Listei parentes, mesmo os distantes, amigas de varias fases da vida, tentei lembrar de amigos também pois, quem sabe, algum velho camarada tinha se descoberto mulher, feito uma operação de mudança de sexo e com isso também mudou o nome...

Mentalmente, consultei nas paginas da memória as ex-namoradas das quais nunca esqueço e no abismo negro do passado fui em busca de alguém que tivesse conhecido na noite, num show, num bar .... mas nada vinha à tona, não me lembrava de sequer dar um “oi” para alguém com esse nome, nunca houve um aperto de mãos ou um abraço, um flerte rápido ou um contrato assinado.

Pesada e misteriosa era a tal caixa de papelão marrom, grosseira como uma embalagem de pregos, silenciosa como a solidão e sinistra como os pensamentos de uma noite insone.

Não resisti, tamanha era minha curiosidade e com uma faca que uso para cortar tomates e descascar batatas cortei-lhe a tampa. Uma fumaça colorida saiu de dentro daquela assombração, seguida por seres espantosos que tomaram conta da sala e logo um espetáculo demente se instalou no meu ninho. Um homem com um abacaxi na cabeça entornava um garrafão de vinho e balbuciava uma velha canção marítima, triste e saudosa como barcos perdidos no oceano e, enquanto isso, uma velha vestida de branco e de pele encardida ria obscenamente, dentes amarelos à mostra, unhas roídas e olhos turvos como num transe.

Dois anões metidos em uniformes de astronauta balançavam no saco de boxe, empurrados por um ser medonho com cabeça cúbica e olhos atentos, piscando de ansiedade em cada face. Ao seu lado um casal dançava um tango imaginário cuja a letra só podia ser ouvida em pensamento e dizia: “toda uma constelação de eventos/ se deve reunir/ para que uma única vez/ se alcance um resultado feliz”.

Milhares de pequenos seres liliputianos corriam aos gritos e, sem razão aparente, morriam exaustos sendo, na seqüência, devorados pelos seus semelhantes. Mas mesmo diante de tantos horrores me lembrei que estava enviando do texto para esse blog e, com dois saltos, cruzei o sofá (centauros vestidos em camisas lancome verde-limão faziam sexo furiosamente sobre ele), escorreguei em algas purulentas e me preciítei em poças repletas de terríveis piranhas asassinas até chegar ao escritório, único lugar preservado no apartamento.

Agora aqui estou, sozinho e assustado mas com minha missão cumprida.

Portanto, espero que vocês gostem do que estão lendo e se não gostarem tanto apenas lembrem-se que tive um trabalho enorme para envia-lo e isso pede uma visão carinhosa e complacente.

4 comentários:

  1. oba!!! Bem vindas serão as suas missivas. abs ricardo

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  2. Uma pessoa conhecida vai mudar de sexo na próxima semana e ainda não tem um nome para usar na nova dimensão. Vou recomendar este post, PANDORA lhe cairá bem.

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  3. Essa história de mudança de sexo ia fazer sucesso na antiguidade clássica. Mas acho que eles transformariam as mulheres em homens. E quem sabe Pandora virasse Adonis...

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